Pesquisas longitudinais com os levantamentos olímpicos

Apesar de amplamente utilizado no treinamento de várias modalidades de força e potência, temos poucas pesquisas longitudinais que tenham comprovado a eficácia do treinamento com LPO para a melhora do desempenho em tarefas motoras como os saltos ou sprints. Além de poucos estudos, os resultados destes ainda parecem um tanto quanto ambíguos (Helland, Hole et al. 2017). Desses poucos estudos, apenas um envolveu atletas (Hoffman, Cooper et al. 2004) e dois controlaram o volume de treinamento (Hoffman, Cooper et al. 2004, Chaouachi, Hammami et al. 2014), ou seja, os resultados são pouco efetivos para possibilitar estabelecermos uma relação causa-efeito (Hackett, Davies et al. 2016). Dessa forma, em contraste do que vem sendo advogado em artigos de revisão – que são primariamente baseados em estudos transversais e nas mensurações de potência durante os levantamentos (Garhammer and Takano 2008, Suchomel, Comfort et al. 2015) – poucos dados suportam o treinamento com  LPO como superior a outros métodos de treinamento de força e potência na melhora da potência de membros inferiores em atletas (Helland, Hole et al. 2017).

Através de uma revisão sistemática com meta-análise, Hackett e colaboradores  (2016), avaliaram os efeitos de programas de treinamento com LPO no desempenho de saltos verticais (VJ), comparados a condições controle, treinamento de força tradicional e treinamentos pliométricos. Os estudos selecionados incluíram intervenções de pelo menos 6 semanas de duração, resultando em um total de 7 trabalhos, descrevendo um total de 232 participantes (175 atletas e 57 estudantes de educação física), com experiência no treinamento de força. Três estudos compararam o treinamento com LPO versus controle; quatro compararam o LPO versus o treinamento de força tradicional e três compararam o LPO versus a pliometria. A meta análise indicou aumentos na altura dos saltos verticais em aproximadamente 7,7% em comparação ao controle, 5,1% em comparação do treinamento de força tradicional, mas sem diferenças significativas em relação a aplicação da pliometria. Os autores concluíram que o treinamento com LPO mostrou-se efetivo na melhora do desempenho dos saltos verticais, mas que os efeitos similares do LPO com a pliometria sugerem que ambos os métodos são benéficos em programas de treinamento de força e potência.

Hoffman e colaboradores (2004), compararam a efetividade do treinamento com LPO versus os levantamentos básicos (supino, agachamento e terra, com altas cargas e velocidades de execução mais lentas) em atletas de colegiais de futebol americano. O programa foi composto de 4 sessões por semana, durante 15 semanas. Nenhuma diferença significativa entre os grupos foi encontrada para o desempenho dos saltos verticais e nos sprints. Tricoli e colaboradores (2005), compararam os efeitos de 8 semanas de treinamento de LPO versus a pliometria em 12 estudantes fisicamente ativos. Os resultados mostraram que o treinamento com LPO foi mais efetivo que o pliométrico na melhora do desempenho dos saltos Squat Jump (SJ) e contra movimento (CMJ), mas não para os sprints. Adicionalmente, no estudo de Channell e Barfield (Channell and Barfield 2008), apesar do tamanho do efeito ter apontando para uma vantagem modesta para o treinamento com LPO frente ao treinamento de força tradicional, as diferenças não foram significativas no desempenho dos saltos verticais em adolescentes treinando os métodos 3 vezes na semana, por 8 semanas.

Mais recentemente, Helland e colaboradores (2017), objetivaram examinar a efetividade de um programa de treinamento com LPO, comparado a outros realizados com pesos livre e demais treinos de potência (FSTP) e um com treinamento de força e potência em isocinéticos – que possibilitavam acentuar a carga durante a fase excêntrica do movimento (MSPT). No estudo, 23 jovens atletas foram distribuídos nos três programas de treinamento. Eles realizaram 2 a 3 sessões por semana, ao longo de 8 semanas. Os grupos MSPT e FSPT treinaram usando agachamentos, enquanto que o grupo LPO usou exercícios como o Clean e o Snatch. O programa MSPT foi conduzido por um sistema motor computadorizado e o FSPT usou apenas pesos livres. O volume de treinamento (soma das repetições x kg) foi similar entre os 3 grupos e a capacidade de saltos foi acessada pelo desempenho nos saltos CMJ, SJ, Drop Jump (DJ) e DJ com cargas de 10-80kg. A velocidade foi acessada pelo desempenho no sprint de 30m. Variáveis secundárias como o 1RM no agachamento, composição corporal, espessura do quadríceps e arquitetura muscular também foram analisadas.

Os resultados do estudo mostraram que, para o desempenho no CMJ, SJ, DJ, e 1RM no agachamento, o programa com LPO resultou em melhoras triviais e inferiores quando comparadas aos grupos FSPT e MSPT. O programa MSPT demonstrou pequenos, mas robustos efeitos no SJ, DJ, CMJ com carga e 1RM no agachamento (3%–13%) e ainda foi superior ao programa FSPT no desempenho dos sprints. Os programas FSPT e MSPT, mas não o LPO, mostraram aumentos na espessura muscular no vasto lateral e reto femoral da ordem de 4%-7%. Os autores concluíram que o programa MSPT foi mais tempo-eficiente e igualmente, ou mais efetivo, do que o FSPT na melhora do desempenho dos saltos e sprints. O programa com LPO não foi efetivo e ainda inferior, quando comparado as duas outras intervenções (ver Tabela 6).

Tabela 6. Mudanças percentuais nos parâmetros analisados para os três grupos e a magnitude da interferência para as mudanças quando ajustadas com a média Pré, massa corporal e o volume total de treinamento.

Considerando tais aspectos das pesquisas acima citadas, concluímos que os resultados dos estudos apenas reforçam a importância da aplicação dos mais variados métodos de treinamento ao longo do planejamento de um atleta. Cada um deles – contribuindo para o desenvolvimento da força e potência através de distintos mecanismos adaptativos – deve ser utilizado em distintos momentos do planejamento e de acordo com a necessidade dos atletas em relação ao desenvolvimento dessas capacidades físicas.

Bibliografia

Channell, B. T. and J. P. Barfield (2008). “Effect of Olympic and traditional resistance training on vertical jump improvement in high school boys.” Journal of Strength and Conditioning Research 22(5): 1522-1527.

Chaouachi, A., R. Hammami, S. Kaabi, K. Chamari, E. J. Drinkwater and D. G. Behm (2014). “Olympic weightlifting and plyometric training with children provides similar or greater performance improvements than traditional resistance training.” Journal of Strength and Conditioning Research 28(6): 1483-1496.

Garhammer, J. and B. Takano (2008). Training for Weightlifting. Strength and Power in Sport, Blackwell Science Ltd502-515.

Hackett, D., T. Davies, N. Soomro and M. Halaki (2016). “Olympic weightlifting training improves vertical jump height in sportspeople: a systematic review with meta-analysis.” British Journal of Sports Medicine 50(14): 865-872.

Helland, C., E. Hole, E. Iversen, M. C. Olsson, O. Seynnes, P. A. Solberg and G. Paulsen (2017). “Training Strategies to Improve Muscle Power: Is Olympic-style Weightlifting Relevant?” Medicine and Science in Sports and Exercise 49(4): 736-745.

Hoffman, J. R., J. Cooper, M. Wendell and J. Kang (2004). “Comparison of Olympic vs. traditional power lifting training programs in football players.” Journal of Strength and Conditioning Research 18(1): 129-135.

Suchomel, T. J., P. Comfort and M. H. Stone (2015). “Weightlifting pulling derivatives: rationale for implementation and application.” Sports Medicine 45(6): 823-839.

Tricoli, V., L. Lamas, R. Carnevale and C. Ugrinowitsch (2005). “Short-term effects on lower-body functional power development: weightlifting vs. vertical jump training programs.” Journal of Strength and Conditioning Research 19(2): 433-437.

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